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Circularidade ainda sem escala na indústria transformadora

Alexandra Costa21/11/2025

Apesar de 79% das empresas industriais reconhecerem que a circularidade já gera valor significativo, apenas uma em cada cinco considera ter cadeias de abastecimento preparadas para operar neste modelo. O novo estudo da Bain & Company, Fórum Económico Mundial e Universidade de Cambridge revela a crescente importância estratégica da circularidade - e os obstáculos que ainda travam a sua implementação em larga escala.

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A circularidade está a tornar-se uma prioridade estratégica para a indústria transformadora global, mas continua longe de atingir o nível de maturidade necessário para gerar impacto em grande escala. Esta é a principal conclusão do estudo recentemente divulgado pela Bain & Company, Fórum Económico Mundial e Universidade de Cambridge, que auscultou cerca de 500 executivos de dez setores industriais.

Os resultados são claros: 79% das empresas reconhecem que a circularidade cria valor significativo para o negócio, mas apenas 20% consideram que as suas cadeias de abastecimento estão preparadas para operar de forma verdadeiramente circular. A ambição é elevada, mas o caminho continua dificultado por barreiras operacionais, tecnológicas, organizacionais e regulatórias.

Circularidade: de tendência emergente a fator crítico de competitividade

A pressão para acelerar modelos circulares intensificou-se nos últimos anos, impulsionada pela escassez de recursos, pelas exigências regulatórias e pela necessidade de reduzir custos e emissões. No estudo, 95% dos executivos afirmam que a circularidade será crucial para as suas organizações nos próximos três anos, e mais de dois terços classificam-na como ‘muito importante’.

Para muitos líderes industriais, a circularidade já não é apenas uma resposta a riscos, mas uma oportunidade de crescimento. Oitenta por cento dos inquiridos acreditam que as receitas provenientes de atividades circulares irão crescer acima da média do negócio, e 70% esperam margens superiores às das operações lineares.

“A questão já não é saber se a circularidade é importante, mas sim como escalar”, sintetiza Álvaro Pires, sócio da Bain & Company. A indústria reconhece o potencial económico, mas transformar cadeias de abastecimento globais e complexas continua a exigir novas competências, novos modelos e, sobretudo, escala.

As cinco grandes barreiras que travam a circularidade

O relatório identifica cinco obstáculos estruturais que explicam porque tantas empresas permanecem na fase piloto:

1. Operações e logística: a baixa disponibilidade de materiais secundários, a variabilidade da sua qualidade e os custos elevados da logística inversa dificultam o desenho de fluxos estáveis e eficientes.

2. Rentabilidade e incerteza da procura: os custos iniciais de recolha, triagem e reintrodução dos materiais, combinados com receitas ainda incertas, tornam difícil justificar investimentos a curto prazo.

3. Tecnologia, dados e infraestruturas: falhas na rastreabilidade digital, sistemas de dados fragmentados e redes insuficientes para logística inversa comprometem a transparência ao longo da cadeia.

4. Organização e competências: a ausência de talento especializado, a resistência interna e a dificuldade em alinhar parceiros externos são barreiras persistentes.

5. Regulação e inconsistências legais: restrições transfronteiriças, regras divergentes sobre resíduos e normas contraditórias criam custos e ineficiências, especialmente para empresas que operam em múltiplos mercados.

Três passos para escalar cadeias circulares

Apesar dos desafios, várias empresas começam a demonstrar que é possível transformar a circularidade numa vantagem competitiva concreta. O estudo destaca três caminhos estratégicos já seguidos por líderes de mercado:

1. Definir prioridades claras: focar produtos de maior valor residual e fluxos de retorno mais previsíveis, orientando a estratégia para segmentos de clientes mais recetivos a ofertas circulares.

2. Criar cadeias de abastecimento híbridas: combinar modelos lineares e circulares. Hoje, 56% das empresas já operam cadeias integradas com fluxos mistos, enquanto apenas 5% têm cadeias totalmente circulares - um indicador de que a integração será a regra no curto prazo.

3. Ativar os catalisadores essenciais: o estudo identifica quatro elementos críticos para desbloquear escala:

  • Tecnologia e dados, com soluções de rastreabilidade, IoT e IA capazes de gerir fluxos imprevisíveis.
  • Pessoas e cultura, integrando a circularidade nas competências, incentivos e governação.
  • Financiamento, capaz de suportar custos iniciais e garantir retorno a médio prazo.
  • Política e regulação, com quadros legais coerentes e incentivos de mercado que reduzam incerteza e promovam simetria competitiva.

Um desafio inadiável para a indústria alimentar

Para a indústria alimentar - um dos setores mais pressionados pelos custos de matérias-primas, metas ambientais e volatilidade logística - a circularidade nas cadeias de abastecimento representa uma oportunidade particularmente relevante. Desde a otimização de embalagens e valorização de subprodutos até modelos de recuperação, reutilização e reintrodução de materiais, as empresas podem ganhar eficiência, reduzir volatilidade e fortalecer a sua reputação junto de consumidores cada vez mais atentos ao impacto ambiental.

O estudo deixa uma mensagem clara: a escalabilidade das cadeias circulares será determinante para a competitividade da indústria nos próximos anos. As empresas que conseguirem ultrapassar as barreiras e investir em soluções integradas estarão melhor posicionadas para crescer de forma sustentável, resiliente e rentável.

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