O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) promove ativamente a questão da redução do peso da garrafa, seja através de critérios associados com a desmaterialização dos componentes, seja através de critérios de avaliação da pegada de carbono.
Considerando que a pegada de carbono do setor vitivinícola é maioritariamente a embalagem de vidro, vulgo garrafa, os esforços estão de facto mais concentrados na redução do peso da mesma. Ainda existe, embora cada vez menos, uma perceção totalmente errada de que um vinho de qualidade deverá ser acompanhado de uma garrafa pesada. Ora, encontramos no mercado exemplos extremistas de garrafas com pesos entre os 700 e os 1.200 gramas. Assim, há uma grande margem de manobra para a redução do peso da garrafa, sem comprometer a integridade da embalagem. Existem a nível internacional iniciativas setoriais que promovem e já obtiveram inclusive o comprometimento de várias cadeias de supermercados para apenas comercializarem vinhos com garrafas até 420 g. Sendo que, há margem de manobra para ir até às 300g (abaixo deste peso começa a haver compromisso sobre a integridade da garrafa para fins de produção industrial). Para referência, para uma garrafa de peso médio entre 900 e 1.200g verificamos uma pegada de carbono na ordem dos 700 e 900g CO2eq, sendo que para uma garrafa padrão de 500g o equivalente é 350 a 500g CO2eq.
O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) promove ativamente a questão da redução do peso da garrafa, seja através de critérios associados à desmaterialização dos componentes, seja através de critérios de avaliação da pegada de carbono. Isto concretiza-se desde logo ao apresentar nos seus requisitos incentivos para a procura por soluções mais leves no mercado. Estas soluções têm um efeito imediato, seja nos custos de produção, uma vez que garrafas mais leves são mais baratas (menos matéria-prima usada, menos energia despendida, menos custos de logística e transporte), seja no cálculo da pegada de carbono associada ao referido anteriormente. Igualmente, somos parceiros da Sustainable Wine Roundtable, que lançou já em 2024 o Bottle Weight Accord, por forma a criar um movimento mundial para o uso de garrafas mais leves.
Claro que sim, sendo que essas alternativas são disponibilizadas do ponto de vista técnico para o auxílio à decisão informada por parte dos agentes económicos. Este é um ponto bastante complexo, uma vez que devemos avaliar a análise do ciclo de vida do produto, visto que apesar de o vidro ser o material dos identificados com maior pegada de carbono, tem, no entanto, uma elevada taxa de reciclagem e reciclabilidade. Ora, o mesmo não acontece, por exemplo, com as embalagens cartonadas que muitas vezes só são recicladas em sistemas de tratamento mais avançados. O mesmo se pode dizer do PET (baixa pegada, mas também baixa reciclabilidade) ou do alumínio, que, como o vidro, tem uma pegada elevada na produção, mas atinge elevados níveis de reciclabilidade. Assim, a resposta quanto ao material de embalamento preferível, trata-se de uma questão complexa e deverá ser determinada por vários fatores: mercado de destino do produto, sistemas de reciclagem no destino, disponibilidade de matérias-primas e disponibilidade técnica nas adegas para o embalamento escolhido.
Bastante, todos estes critérios estão presentes no âmbito da desmaterialização de produto, ao abrigo do Capítulo de Materiais e Componentes, que inclui os embalamentos primários, secundários, os vedantes (rolhas), cápsulas, vidro, cartão, papel, rótulos, etc. Olhamos igualmente para a cadeia de custódia destes componentes, nomeadamente a origem dos materiais lenhosos, e se apresentam qualquer tipo de certificação de 3.ª parte, como o FSC ou PEFC. Avaliamos, por exemplo, se o Agente Económico reduziu ou eliminou, de todo, tintas e vernizes nos embalamentos secundários (caixas de cartão) ou se reduziu ou eliminou as cápsulas do gargalo da garrafa.
Tudo o que identificámos anteriormente contribui para a redução significativa do peso e, por inerência, da pegada. No entanto, o passo mais importante será podermos enviar o vinho DOC em formato granel para ser engarrafado no destino. Essa é uma prática já habitual em vários países produtores de vinho (nomeadamente do Mundo Novo) e, inclusivamente, em Portugal existem regiões que a permitem. O Alentejo, ao abrigo do seu Programa de Sustentabilidade, está neste momento a avaliar a viabilidade de o fazer, considerando que existe todo um conjunto de premissas associadas à garantia da qualidade do produto vinho que terão de ser devidamente salvaguardadas.
São todas opções válidas que, no entanto, têm de ser avaliadas de forma integrada, relativamente aos objetivos, mercados e prioridades dos Agentes Económicos. No âmbito direto do PSVA, as cadeias de transporte e o âmbito 3 do cálculo da pegada de carbono ainda não fazem parte da nossa avaliação. Acreditamos num crescimento sustentado no nível de consciência e intervenção dos nossos membros relativamente ao desenvolvimento das suas atividades. Por isso, ao longo dos anos temos vindo a acrescentar níveis de complexidade ao Programa do Alentejo, sendo os exemplos mais recentes precisamente a pegada de carbono (âmbitos 1 e 2) e a economia circular. Contamos, nos próximos anos, alargar ainda mais o nosso âmbito, sempre numa lógica de melhoria contínua do nosso próprio sistema de avaliação e no aumento da competitividade dos nossos membros.
João Barroso
Coordenador do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo
Para saber mais sobre o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), visite o website
https://sustentabilidade.vinhosdoalentejo.pt/pt/programa-de-sustentabilidade-dos-vinhos-do-alentejo
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