GRUPOS OPERACIONAIS DA ASSOCIAÇÃO EUROPEIA PARA A INOVAÇÃO: Centro Tecnológico Tecnova, Grupo Hispatec, Grupo Caparrós, Parque Científico-Tecnológico de Almería
10/01/2024Nos últimos anos, houve uma mudança significativa na forma como as pessoas consomem os alimentos. Esta mudança centrou-se numa maior sensibilização para a saúde, na preocupação com o ambiente e com a sustentabilidade, bem como nas implicações éticas da produção e/ou elaboração dos mesmos. Esta mudança conduziu a um aumento da procura de alimentos orgânicos, produtos locais e opções de alimentos mais saudáveis. Neste sentido, os consumidores querem saber de onde são provenientes os alimentos, como são produzidos e se seguem práticas éticas na sua produção.
Além disso, a pandemia de COVID-19 pôs em evidência a importância da segurança alimentar para os consumidores. Agora, mais do que nunca, as pessoas estão conscientes da necessidade de contar com um sistema alimentar seguro e fiável. Neste sentido, a rastreabilidade dos alimentos e a garantia da segurança dos produtos são prioridades para os consumidores.
Logótipo do projeto.
Apesar da importância da transparência e da disponibilidade de informação para os consumidores, ainda existem desafios no acesso à mesma. Alguns destes desafios incluem a complexidade da informação nos rótulos, a falta de normas uniformes para a apresentação da informação e a limitação de espaço nos rótulos para incluir todos os detalhes relevantes.
Além disso, no caso dos produtos hortofrutícolas, um dos principais obstáculos da sua comercialização é a venda dos mesmos sob marcas de terceiros (principalmente de supermercados e grandes superfícies comerciais), restando, portanto, um espaço reduzido no próprio rótulo para a informação relativa à origem do produto.
Assim, é essencial garantir que a informação seja facilmente disponibilizada, compreensível e transparente, a fim de satisfazer as atuais exigências dos consumidores. Reconhecendo a importância de progredir no sentido de um sistema alimentar que seja seguro, claro, equitativo, saudável e sustentável, também compreendemos a necessidade de abordar as preocupações crescentes dos consumidores que procuram informações rigorosas e em tempo real sobre os produtos.
Por isso, as entidades Grupo Caparrós Nature, Grupo Hispatec, Centro Tecnológico Tecnova e Parque Científico-Tecnológico de Almería, PITA, aliaram-se para desenvolver o projeto “eTIC4FOOD”. Este Projeto consiste num Grupo Operacional Autónomo, aprovado em 2021 pela Secretaria Regional da Agricultura, Pecuária, Pescas e Desenvolvimento Sustentável da Junta da Andaluzia, no âmbito da Linha de Auxílio ao funcionamento dos Grupos Operacionais da Parceria Europeia de Inovação (PEI) em matéria de produtividade e sustentabilidade agrícola, e cofinanciado no âmbito do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER).
O principal objetivo do projeto eTIC4FOOD centrou-se na conceção, desenvolvimento e validação de um rótulo inteligente para produtos hortofrutícolas baseado nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Assim, este projeto visa melhorar a acessibilidade da informação sobre os alimentos que consumimos.
Para a consecução do referido objetivo, o projeto eTIC4FOOD foi dividido em 3 etapas: uma etapa documental inicial, seguida de uma etapa experimental e, finalmente, uma etapa de divulgação na qual se maximize a visibilidade do presente projeto e se facilite a transmissão do conhecimento gerado durante a sua execução aos setores interessados nestas novas tecnologias de rotulagem.
Durante a etapa documental, foi feita uma atualização sobre o estado da arte dos atuais hábitos de alimentação dos consumidores, bem como sobre as tecnologias de informação e comunicação disponíveis para poder conceber e desenvolver o rótulo inteligente para diferentes produtos hortofrutícolas. Assim, foram determinadas as necessidades de informação exigidas pelo consumidor ao longo de toda a cadeia de valor dos dois produtos hortofrutícolas em estudo. Foi também efetuada uma avaliação dos requisitos a ter em conta pela plataforma que conteria a informação, com o objetivo de prever as possíveis alternativas e tecnologias a aplicar no momento de desenvolver o referido sistema de informação.
Por último, a etapa documental culminou num estudo de avaliação das tecnologias da informação e da comunicação mais utilizadas no setor alimentar e que poderão ser transferidas para o setor hortofrutícola, o qual se encontra atualmente menos desenvolvido neste âmbito. Além disso, durante esta etapa, foi realizada uma análise interna sobre o que deveria constar do rótulo para se poderem cumprir os objetivos e requisitos do projeto, de modo a que se pudesse chegar a uma situação de compromisso relativamente à informação que se queira mostrar aos consumidores e, ao mesmo tempo, que possa ser tecnicamente viável para implementação em grande escala.
Modelo de produtos hortofrutícolas para a implantação do Sistema de Rotulagem Inteligente.
A fase experimental do projeto foi iniciada com a conceção e construção do sistema de informação, no qual a Hispatec teve um peso muito importante na construção da referida plataforma. Durante esta fase, o Grupo Hispatec concebeu um processo ETL (Extraction, Transformation and Load) que permitisse extrair o conjunto de dados das diferentes fontes de dados, transformá-lo num formato standard e carregá-lo no Data Lake da plataforma do projeto eTIC4FOOD. Assim, através do rótulo inteligente será possível mostrar todos estes dados e apresentá-los aos consumidores de forma rápida e fácil.
Ao mesmo tempo, foi dado a conhecer em pormenor o que os consumidores precisam realmente de saber para incentivar a compra e o consumo de produtos hortofrutícolas. Para o efeito, foram realizados inquéritos, em colaboração com os restantes membros do consórcio, para conhecer em primeira mão as necessidades e opiniões dos consumidores e ser possível ter um feedback sobre os principais pontos-chave que devem ser incluídos no rótulo inteligente.
Num primeiro inquérito, os consumidores regulares de frutas e legumes avaliaram as informações mais importantes que deveriam estar presentes no rótulo inteligente do produto. Neste sentido, para a maioria dos consumidores, as informações sobre o valor nutricional do produto (75% dos consumidores), a sua origem (85% dos consumidores) e as condições de cultivo (65% dos consumidores) foram as selecionadas como indispensáveis quando se trata de figurar no rótulo. Além disso, neste mesmo inquérito, os consumidores indicaram que estariam dispostos a pagar até 10% mais pelo produto se alguma destas informações constasse do rótulo. Por último, para a maioria dos consumidores (70%), o código QR seria a tecnologia mais fácil para possibilitar a leitura do conteúdo do rótulo inteligente, e os mesmos consideraram que esta ferramenta proporcionaria mais confiança e transparência durante a comercialização dos produtos hortofrutícolas.
Melancia Premium da Caparrós Nature.
Num segundo inquérito, realizado a um maior número de participantes, foram colocadas questões relacionadas com os atuais hábitos de consumo de fruta e legumes, bem como questões relacionadas com a informação contida nos rótulos e com tecnologias de fácil utilização e interpretação. Neste sentido, 62% dos inquiridos indicaram que costumavam consultar a informação nutricional dos alimentos que consomem. Além disso, 73% das pessoas que participaram no estudo referiram o consumo diário de fruta e legumes, em comparação com 9% e 18% dos participantes que apenas o faziam duas vezes por semana e quatro vezes por semana, respetivamente. Neste novo inquérito, mais uma vez, para a maioria dos participantes, a origem do produto, bem como o modelo de produção e a inclusão de receitas em que o produto adquirido esteja incluído, foram as informações que mais foram valorizadas quanto à sua presença no rótulo. Além disso, 74% dos consumidores regulares de frutas e legumes indicaram que o código QR seria a tecnologia mais fácil de utilizar para visualizar as informações contidas no rótulo, em comparação com 14% e 7% que consideraram que as tecnologias NFC e de Realidade Aumentada, respetivamente, também seriam tecnologias fáceis para aceder ao conteúdo do rótulo inteligente. Por último, 82% dos participantes consideraram que este tipo de rótulo proporcionaria valor acrescentado ao produto.
Assim, de acordo com estes resultados e com a atualização do estado da arte dos atuais hábitos de consumo de produtos hortofrutícolas e das ferramentas TIC utilizadas na rotulagem de alimentos, optou-se por utilizar a codificação QR, entre outros motivos, porque após a pandemia de COVID-19, os consumidores estão mais familiarizados com este tipo de codificação no seu dia a dia, para além de se tornar um novo padrão para os smartphones atuais, garantindo a compatibilidade seja de forma nativa ou com aplicações externas que podem ser associadas à câmara do próprio dispositivo.
Uma vez estabelecida a tecnologia a utilizar para a criação do rótulo inteligente, os principais conteúdos a incluir no rótulo inteligente foram discutidos em reuniões periódicas. Neste sentido, pretendia-se chegar a uma situação de compromisso, uma vez que o consumidor não deve ser sobrecarregado com dados muito técnicos. Além disso, a interface e as informações alojadas devem ser tão simples e fáceis de utilizar quanto possível, a fim de se poder abranger o maior espetro possível de consumidores. Assim, foi decidido que a informação a constar no rótulo deveria ser clara e concisa e, ao mesmo tempo, permitir a criação de uma identidade de marca para que este rótulo inteligente servisse como ponto de encontro informativo não só dos produtos em que se esta se encontrasse localizada (tomate-cereja Lobello e Melancia Premium), mas também como fonte de informação ou repositório sobre a própria entidade (Caparrós Nature), através da apresentação de atividades, newsletters, secção de notícias, entre outros.
Para a maioria dos consumidores, as informações sobre o valor nutricional do produto (75%), a sua origem (85%) e as condições de cultivo (65%) foram selecionadas como indispensáveis quando se trata de figurar no rótulo
Por último, as informações contidas no rótulo inteligente foram divididas em 3 áreas informativas relacionadas com a produção, a distribuição, e a comercialização e consumo de dos produtos hortofrutícolas. No caso da produção, a equipa técnica da Caparrós Nature, constituída pelo departamento de qualidade, pelo departamento de campo e pelo departamento industrial e informático, realizou sucessivas reuniões para definir os principais pontos que deveriam constar no rótulo relativos à produção e distribuição dos diferentes produtos hortofrutícolas considerados neste projeto.
Assim, graças ao rótulo inteligente baseado em codificação QR, o consumidor poderá obter informações dinâmicas sobre as zonas de cultivo dos produtos, bem como ver fotografias e vídeos das quintas ou estufas onde o produto foi cultivado. Além disso, nesta secção informativa, o consumidor pode também informar-se sobre a utilização de matérias-primas durante o cultivo, que se encontra categorizada de acordo com a zona de origem do produto.
Plataforma do projeto eTIC4FOOD na qual se recolhem todas as informações que aparecem no rótulo inteligente para cada um dos produtos hortofrutícolas, melancia Premium e tomate-cereja Lobello.
Por outro lado, na secção de distribuição, o consumidor poderá encontrar informações estáticas relacionadas com RSC, qualidade, selos, licenças, informação corporativa, entre outras, sendo estas informações atualizáveis como se fossem um apêndice do próprio site da empresa. Quanto à secção de comercialização e consumo, aqui, os consumidores podem encontrar informações relativas à qualidade nutricional dos produtos, bem como os modos de preparação tradicionais e alternativos, com base nas sugestões de preparação e apresentação dos frutos que são tendência no mercado.
Para obter a informação nutricional dos produtos, o Centro Tecnológico Tecnova encarregou-se de caracterizar a qualidade físico-química, nutricional e sensorial de ambos os produtos, tanto no início da conservação como durante o período de vida útil, tendo em conta diferentes cenários de conservação.
A parte experimental deste projeto culminou com a implantação dos conteúdos informativos selecionados na plataforma do projeto eTIC4FOOD e a validação do mesmo através da sua implementação num sistema produtivo real. Assim, foram gerados os rótulos inteligentes para tomate-cereja Lobello e para melancia Premium nas instalações de produção da Caparrós Nature, situadas no Parque Científico-Tecnológico de Almeria (PITA).
Para isso, foi proposto que a informação contida no rótulo inteligente de cada produto seja incorporada na interface do eTIC4FOOD ao mesmo tempo que é introduzida no software do armazém. Desta forma, o rótulo gerado com o código QR aparecerá no ecrã do equipamento do responsável de rotulagem, o qual se encarregará, por fim, de o adaptar para impressão na rotuladora da linha de produção correspondente.
www.ialimentar.pt
iAlimentar - Informação profissional para a indústria alimentar portuguesa