“As inovações em embalagens serão cada vez mais voltadas para a sustentabilidade e materiais compostáveis”
Entrevista com Cláudia Pimentel, secretária geral da AICC
Dois grandes desafios da indústria do café são a incorporação de materiais recicláveis nas embalagens já existentes e a dificuldade de obtenção de materiais compostáveis
O selo “Portuguese Coffee” facilita o reconhecimento da origem de transformação do produto
A crescente variedade de oferta de café orgânico, vegan ou com aditivos e o crescimento dos cafés premium marcam tendência
A inovação de produto é “um fator de diferenciação” na sustentabilidade do café, tanto em termos de qualidade quanto de embalagem. Neste último caso, “as empresas têm estado atentas” à necessidade crescente de embalagens eco eficientes e apostam em cápsulas compostáveis e recolha e reciclagem de cápsulas usadas, sublinha em entrevista a secretária geral da AICC
Que balanço faz da indústria de cafés em Portugal, a nível de produção, e comparativamente aos últimos anos?
Face ao atual contexto de inflação e crise económica, como é que a redução do consumo se reflete nos números da produção? Após as restrições do Covid, e no início de 2022, o consumo de café voltou para o comércio local. Assim, o canal on-trade (fora do lar) recupera e o canal off-trade (retalho/lar) regista quedas no volume de retalho. No entanto, com a inflação e a crise económica espera-se que neste segundo semestre do ano o consumo fora do lar cresça a um ritmo lento, com o consumidor residente provavelmente a voltar ao consumo em casa, por razões económicas. Mas o volume final de consumo interno não deverá baixar face ao novo aumento de turismo, que tem influência direta no consumo final de café.
Na sua opinião quais são as grandes tendências desta indústria? Como estão a responder os produtores de café em Portugal aos reptos da sustentabilidade, economia circular e inovação tecnológica?
É de destacar a crescente variedade de oferta, com mais opções de diferentes tipos de café, desde orgânicos a vegans ou a cafés com aditivos de colagénio, zinco, etc. E também o crescimento dos cafés premium. No canal off-trade, a tendência de “Slow Coffee” provavelmente continuará a ganhar força nos próximos anos. No canal on-trade, tem crescido o número crescente de lojas especializadas em café (coffee shops) que oferecem produtos e experiências premium. A deterioração da economia poderá ter uma influência negativa e levar os consumidores a controlar os seus gastos, o que provavelmente levará a uma mudança para opções mais acessíveis, como marcas próprias, que irão aumentar as suas quotas de mercado. Finalmente, a inovação de produto é definida como um fator de diferenciação dentro do café, tanto em termos de qualidade do produto quanto em termos de embalagem. Neste último caso, espera-se que as inovações em embalagens sejam cada vez mais voltadas para a sustentabilidade e para o uso de materiais ecológicos e compostáveis.
No que respeita à preocupação crescente de fabricar embalagens e cápsulas de café cada vez mais eco eficientes, acredita que as empresas portuguesas estão a acompanhar a evolução do mercado internacional? Quais são os grandes desafios de embalagem na indústria dos cafés?
No que respeita a embalagens e cápsulas eco eficientes, todas as empresas têm estado atentas e a acompanhar a esta temática, desenvolvendo internamente meios para responder esta necessidade crescente, nomeadamente com a aposta em cápsulas compostáveis e com o sistema de recolha e reciclagem de cápsulas usadas. A AICC também tem um papel importante ao informar os seus associados das discussões relativas a alterações legislativas que decorrem em Bruxelas, nomeadamente agora com a discussão do PPWR [Proposal Packaging and Packaging Waste] / RERE, e que nós acompanhamos através das nossas congéneres e da nossa Federação Europeia do Café. Haverá outros, mas os grandes desafios de todas as indústrias agroalimentares, em termos de embalagens, neste momento serão: - A incorporação de materiais recicláveis nas embalagens já existentes, tendo em conta a escassez de materiais recicláveis compatíveis com a indústria alimentar; - A dificuldade de obtenção de materiais compostáveis, em especial no caso da indústria do café, com as caraterísticas necessárias à submissão de alta pressão e temperatura a que as cápsulas de café estão sujeitas; - O aumento de preços dos materiais e da logística.
No exclusivo processo de transformação do café, a que premissas tem esta indústria de obedecer, nas várias fases - do fabrico à embalagem – para evoluir para um mercado inovador e reconhecido internacionalmente?
A indústria do café, como qualquer indústria transformadora e na área agroalimentar, tem de seguir normas de higiene e segurança alimentar muito rigorosas, para além de toda a legislação relativa às embalagens - e essa legislação é comum a todos os países europeus, por isso temos standards internacionais reconhecidos. O fator diferenciador está na combinação de origens e no processo de torra, que faz com que a transformação do café verde em café torrado torne o café português único.
Em que medida contribui o selo “Portuguese Coffee” para esse reconhecimento e que balanço faz desta iniciativa?
O Café Expresso Português é a essência sublimada do café, uma bebida rica e intensa de características próprias. E é reconhecido como tal, pela sua especificidade. Era necessário permitir que o consumidor no exterior identificasse o nosso produto já reconhecido. O selo de denominação da marca distintiva do Café Expresso Português facilita o reconhecimento da origem de transformação do produto, e o balanço é positivo. O selo surgiu da aliança entre diversos torrefactores portugueses (associados) que sentiram a necessidade de criar um elemento visual que permitisse facilmente identificar este produto, a sua origem de transformação e as suas características únicas. Foi nomeado “Portuguese Coffee – a blend of stories” porque representa várias histórias das diversas marcas à volta do café português, mas também a associação entre a História de Portugal e a História do café no mundo, pois Portugal teve um papel preponderante na disseminação desta que é a segunda “commodity” mais transacionada no planeta. Com o crescimento do mercado global de café (mercados asiáticos, sul americanos e africanos) e a mudança de hábitos de consumo dos países da Europa, que cada vez mais bebem café expresso, Portugal aproveitou a oportunidade para a internacionalização e crescimento do sector. Este selo permitirá a marcas de café nacionais e ao consumidor identificar a origem da torrefaçao e as suas características de verdadeiro Café Expresso Português, garantindo a sua especificidade e a sua identidade própria. Contribui ainda para a aceleração da competitividade das empresas nacionais no exterior e facilita o acesso a mercados internacionais.