Segundo dados do INE, o valor do sector do queijo representa 37% do volume de negócios da indústria de lacticínios. A ANIL – Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios avança que, ainda sem dados oficiais para o ano passado, em 2021 o setor apresentava um crescimento de 1%, num total de 500 milhões de euros.
A evolução do sector do queijo tem sido positiva em termos de volume, registando, à exceção de 2020, um crescimento que culmina numa produção total de 88 mil toneladas em 2021. De acordo com a Maria Cândida Marramaque, diretora geral da ANIL, este crescimento é essencialmente “motivado pelo aumento da produção de queijo de vaca”, que ronda as 67 mil toneladas em 2022, em números provisórios.
Como também explica, em entrevista à iALIMENTAR, Maria Cândida Marramaque, as produções de queijo de leite de pequenos ruminantes e mistura de leites “são menos expressivas”. A Associação aguarda ainda os dados referentes a 2022, mas o ano de 2021 registou decréscimos de produção, nomeadamente -0,5% nos queijos de ovelha (cerca de 12 mil toneladas), -1,6% em queijo de cabra (4 mil toneladas) e -5,4% nos queijos de mistura de leites.
Dados citados pela Bel revelam que, depois de um ano de crescimento beneficiado em valor, a categoria de Queijo regista um acréscimo de 24,3% em valor e uma perda de -3,7% volume, em termos homólogos (acumulado do ano findo em abril 2023). Yvan Mendes, marketing manager da Bel Portugal, detalha que, neste período, o setor atingiu 244.181 milhões de euros que correspondem a 23.985 toneladas de queijo vendidos (Nielsen, Total Portugal + Ilhas + Lidl).
A avaliação do primeiro trimestre revela um abrandamento da produção de queijo, em termos nacionais: uma diminuição de 8,4% na produção de queijo de vaca, face ao trimestre homólogo, o que representa 1.370 toneladas a menos de queijo produzido. Maria Cândida Marramaque justifica esta redução “pela aparente existência de stocks ao nível da indústria nacional, gerados pelo menor poder aquisitivo por parte dos consumidores, mas também pela disponibilidade e valor do produto importado”. Há um maior volume de importações de queijo no trimestre (10,6%) face ao homólogo, num total de 17.00 toneladas, valor superior ao do volume que deixamos de produzir, de “valor atrativo”, diz.
Também para Yvan Mendes, “depois de vários anos com um contexto macroeconómico e social voláteis, o ano de 2022 mostrou-se imprevisível e muito afetado pelo aumento da inflação”. Segundo o responsável da Bel, depois de meses consecutivos de crescimento contínuo do mercado em valor, o volume de vendas “começou a abrandar e a mostrar tendência negativa para o ano de 2023”.
No que respeita à internacionalização do setor, “após a paragem forçada pela crise pandémica, as exportações de “queijo e requeijão”, que representam 10% da produção nacional de queijo, recuperaram em 2021 e mantiveram a trajetória de evolução positiva, detalha Maria Cândida Marramaque.
Os dados do INE revelam que, depois de uma quebra significativa em 2020 (para pouco mais de 34 milhões de euros), em 2021 o valor das exportações cresceu para mais de 42,5 milhões de euros, e em 2022 para mais de 66 milhões de euros. O volume das exportações de queijo aumentou de cerca de 8 milhões de toneladas em 2022 para 9,5 milhões de toneladas em 2021 e quase 12 milhões no ano passado. Segundo a diretora geral da ANIL, os dados provisórios de 2022 apontam para um crescimento em volume (+25%) e em valor (+56,1%), face a 2021.
No entanto, a taxa de cobertura das exportações pelas importações é de 19,5%, “indicando um déficit da balança comercial de 274 milhões de euros correspondentes a cerca 60 mil toneladas de queijo”, alerta a responsável.
As importações de “Queijo e requeijão”, que representam mais de 70% da produção nacional, aumentaram 11% no ano passado, para as 71 mil toneladas. Este “é um indicador de alerta para um risco que diria capital. Importam-se maioritariamente produtos mais baratos, que “vestem” uma marca nacional ou passam despercebidos via canal horeca e foodservice, e que não agregam valor”, lamenta Maria Cândida Marramaque.
Mas, face à pressão inflacionária, os consumidores estão a comprar cada vez mais marcas brancas de queijo no mercado do Grande Consumo? Sim. “O menor poder aquisitivo dos consumidores, fruto da inflação, altera o seu comportamento de compra. É notório o menor volume de produtos lácteos adquiridos, mas é também notória a mudança de escolha do consumidor, de produtos de marca de fabricante para produtos de marca de distribuidor”, sublinha a diretora geral da ANIL. O que “encontra explicação no diferencial de preço expressivo entre a marca de distribuidor face às marcas de fabricante”, conclui.
Também a Bel Portugal admite “um crescimento acelerado das marcas do distribuidor e das vendas em promoção” no contexto de inflação, “apesar de mantermos a liderança do mercado de queijo”, diz Yvan Mendes.
A competitividade é a chave para incrementar valor no setor dos queijos, e ganha-se adotando tendências de inovação tecnológica e transformação digital do setor. No caso da BEL Portugal, a estratégia de inovação ao nível de produto tem como pilar a sustentabilidade. Exemplo disso é a adoção de materiais de embalagem mais responsáveis (reciclável, compostável, biodegradável) e a simplificação e redução do consumo de recursos naturais em toda a cadeia, explica Yvan Mendes. A empresa tem ainda trabalhado em propostas de produtos cada vez mais saudáveis, como a redução de sal nas fatias das marcas Limiano e Terra Nostra.
Defendendo que “ter marcas com um propósito maior e visão de longo prazo é fundamental”, o responsável recorda a ambição da Terra Nostra em ser a marca de lacticínios mais sustentável do mundo. A marca criou o Programa Leite de Vacas Felizes, que promove a pastagem natural com práticas de sustentabilidade e de bem-estar animal, e lançou recentemente uma campanha de visita aos Açores associada aos 140 produtores certificados deste programa, os quais são “recompensados pela aplicação das melhores práticas de qualidade e sustentabilidade na produção leiteira“.
A BEL Portugal, que comercializa ainda a marca Limiano, entre outras, venceu este ano o Prémio Nacional de Agricultura na categoria Agricultura Sustentável, um reconhecimento ao trabalho que a empresa tem vindo a desenvolver ao nível da produção responsável de laticínios, nomeadamente com os queijos das marcas Terra Nostra e Limiano.
Para a ANIL, a adaptação do sector à inovação tecnológica e à transformação digital “é um passo essencial” para a indústria de laticínios. “Não apenas para resolver os desafios atuais que enfrenta, mas para ganhar eficiência”, esclarece Maria Cândida Marramaque, sugerindo que a tecnologia terá maior impacto se aplicada ao longo do ciclo produtivo.
A integração da recolha e análise de dados “é por isso uma área cada vez mais desenvolvida, no suporte às melhores decisões, no acompanhamento das explorações, na monitorização e otimização do processo produtivo, na rastreabilidade, no desempenho ambiental, na inovação e na presença digital junto do consumidor”, considera a especialista.
Na sua opinião, a maior complexidade que se coloca ao setor reside no impacto do quadro legal, sempre em evolução. “No tempo para o cumprir e no tempo para cumprir com as expectativas dos consumidores”, diz.
De resto, da produção sustentável à transformação tecnológica, “os temas são transversais e diversos, e o desafio é trabalhá-los ao longo da cadeia de produção, desde a exploração leiteira ao consumidor”, potenciando soluções inovadoras que gerem eficiência e melhorem a competitividade do sector, conclui a diretora geral da ANIL.
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