Artigo publicado na edição n.º 6 da revista iALIMENTAR
M. Helena Gomes, Senior Manager, Colab4Food*
Ana Sousa, Manager, Colab4Food*
* Colab4Food - Laboratório Colaborativo para a Inovação da Indústria Agroalimentar
Rua dos Lagidos, 4485-655, Vairão, Vila do Conde, Portugal
21/11/2022Em todo o mundo, os consumidores estão preocupados com o estado do meio ambiente e a sua perceção afeta o seu processo de tomada de decisão no momento da compra – quase 60% dos consumidores da União Europeia (UE) consideraram o impacto ambiental mais importante do que a marca do produto (Mintel Group Ltd, 2022).
No entanto, com o aumento do custo de vida, muitos consumidores ficaram mais sensíveis aos preços, mas continuam a exigir a sustentabilidade dos produtos: 13% dos consumidores tenciona deixar de comprar as marcas que não tenham em consideração na sua agenda a proteção do ambiente e do planeta, apesar de 63% dizerem que o preço elevado os pode demover de comprar produtos sustentáveis (Ferreira, 2022).
Simultaneamente, com a evolução do mercado e das preferências do consumidor, surge a necessidade de cadeias de valor mais responsáveis e sustentáveis. O grande aumento populacional esperado até 2050, a escassez de alimentos e a subnutrição são preocupações atuais e têm levado à definição de estratégias e metas pela Comissão Europeia. O Pacto Ecológico Europeu prevê um plano de ação para impulsionar a utilização eficiente dos recursos através da transição para uma economia circular, restaurar a biodiversidade e reduzir a poluição.
A sustentabilidade consiste na procura de soluções que impactam positivamente em (pelo menos) um destes círculos: meio ambiente, sociedade ou economia
A sustentabilidade consiste na procura de soluções que impactam positivamente em (pelo menos) um destes círculos: meio ambiente, sociedade ou economia. Atualmente, as empresas do setor agroalimentar devem incorporar, nos seus planos de sustentabilidade corporativa, ações alinhadas com as quatro grandes tendências:
Os consumidores acreditam que o seu comportamento pode ter um impacto positivo no meio ambiente e as empresas produtoras e comercializadoras devem ser mais transparentes para conseguirem conquistar a sua confiança e intenção de compra.
Uma estratégia a adotar passará por aderir a sistemas de certificação por entidades terceiras e selos de certificação como eco-score ou product environmental footprint (PEF), produção biológica, bem-estar animal, fair trade, entre outros, para garantir princípios de proteção do ambiente, clima, biodiversidade, vida animal, trabalho decente e preços justos, assim como quantificar indicadores de consumos de água, energia, emissões de carbono, redução de desperdício, reutilização e reciclagem de matérias-primas e materiais. As alegações voluntárias dos operadores (self-declared claims) devem ser claras e verdadeiras, sob pena de as falsas alegações sobre a pegada ambiental dos seus produtos (greenwashing) resultarem no boicote das marcas pelos consumidores. A transparência da comunicação pode ser otimizada com a traceabilidade digital, em que um código QR transporta o consumidor para uma visita guiada ao agricultor e ao processo produtivo, ajudando os consumidores a fazer escolhas.
O consumo responsável, particularmente em dietas ricas em plantas, apoiando os agricultores e as comunidades rurais, preservando os ecossistemas mais frágeis e reduzindo o desperdício, irá reduzir as pegadas de carbono e mitigar as mudanças climáticas, além de melhorar a saúde humana (ONU, 2022).
Nesse sentido, também a pecuária europeia e os sistemas agrícolas que a suportam têm apostado na otimização de recursos, bem-estar animal, equilíbrio ambiental e na regeneração de ecossistemas.
No futuro (ainda muito incerto), o consumidor continuará a procurar manter um sentido de controlo sobre a sua vida, ou seja, consumir de forma responsável e exigindo uma produção mais eficiente e empresas que atuam positivamente ao nível ambiental, social e de governança corporativa.
No entanto, é relevante que a sustentabilidade não se limite apenas ao compromisso das empresas. Deverá continuar a existir um trabalho multidisciplinar, com incentivo das próprias entidades governamentais, para a investigação e inovação. Nesse sentido, o Colab4Food é o laboratório colaborativo para a inovação da indústria agroalimentar, e tem vindo a promover a cooperação entre entidades académicas e empresariais na procura de soluções sustentáveis e na preservação dos ecossistemas.
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