48 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: IMPACTOS E RESPOSTAS incluindo processos produtivos, limpeza, refrigeração e controlo de processos —, a água será também fortemente pressionada pelas alterações climáticas nas unidades industriais. “A conjugação da maior exigência energética com a pressão sobre a disponibilidade e o uso eficiente da água coloca um duplo desafio: adaptar as infraestruturas e processos para assegurar a qualidade e segurança alimentar e, ao mesmo tempo, minimizar o impacto ambiental e controlar os custos operacionais”, explica Vítor Alves. A digitalização dos sistemas de produção e de controlo ambiental, bem como a aposta em fontes de energia renovável, são algumas das respostas emergentes para enfrentar estes desafios. O setor agroalimentar enfrenta uma crescente escassez hídrica, que afeta diretamente os processos industriais — desde o processamento até à higienização de equipamentos. A projeção linear do consumo de água indica a necessidade de medidas urgentes. “Neste sentido, o roteiro recomenda a monitorização rigorosa do uso da água, a adoção de tecnologias digitais de controlo e a implementação de sistemas de irrigação inteligente, especialmente quando falamos de cadeias integradas com produção agrícola”, destaca Patrícia Coelho. Resumindo, as alterações climáticas agravam os desafios operacionais e económicos da indústria alimentar, mas também aceleram a necessidade de transição para soluções mais eficientes, inteligentes e sustentáveis. “Na InovCluster, temos acompanhado esta evolução e apoiado as empresas a adaptarem-se com base em conhecimento técnico, inovação colaborativa e políticas públicas orientadas para a neutralidade carbónica”, acrescenta a responsável. Uma vez que os períodos de seca prolongada e a alteração dos padrões de precipitação podem limitar a disponibilidade de água nas várias etapas da produção alimentar, as indústrias “devem implementar estratégias de gestão hídrica mais eficientes, como a reutilização de águas residuais, sistemas de recirculação e tecnologias de menor consumo, para reduzir o impacto ambiental e garantir a continuidade da produção”, sublinha Vítor Alves. CONCLUSÕES DO ROTEIRO PARA A DESCARBONIZAÇÃO DO SETOR ALIMENTAR A PortugalFoods apresentou alguns dados da fase final do 'Roteiro para a Descarbonização do Setor Agroalimentar', no passado dia 9 de julho, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Este roteiro resulta de um consórcio entre a PortugalFoods, a InovCluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro, e a Câmara. “A indústria alimentar e de bebidas tem um impacto razoável naquilo que é o total de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), com 11% do total das emissões da indústria transformadora em Portugal e cerca de 2% das emissões GEE totais nacionais”, explicou Deolinda Silva, diretora-executiva da PortugalFoods. Este consórcio contou com algumas entidades técnicas para o acompanhamento e a consolidação da informação durante o período do projeto. “Este roteiro quis traçar medidas gerais para o setor e também mais específicas para as fileiras com maior impacto nas emissões”, referiu a responsável. E que fileiras são essas? A carne, os lacticínios, os cereais e a panificação, a preparação e a conservação de frutos e produtos agrícolas, as bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Foram lançados muitos inquéritos às empresas e realizadas algumas visitas selecionadas. “Criámos grupos de trabalho e investimos na capacitação das empresas”, afirmou Deolinda Silva. A principal evolução do setor desde 2012 foi feita através da substituição dos produtos petrolíferos e dos combustíveis fósseis, do GPL e do fuelóleo, pelo gás natural. Este consumo de energia final manteve-se estável e originou uma redução de cerca de 30% da emissão de GEE, acrescentou. A diretora-executiva da PortugalFoods contextualizou ainda o Plano Nacional Energia e Clima 2030 e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 com “metas bastante ambiciosas”, com a redução das emissões em 50% até 2030 e em 90% até 2050. “Foram estas as metas adotadas em todo o trabalho realizado durante a elaboração deste roteiro. Também sabemos que foram identificados quatro eixos de transição principais: eficiência energética, utilização de renováveis, descarbonização pela eletricidade e eletrificação do consumo”. O trabalho realizado com este roteiro partiu da identificação de cenários que seguem o pressuposto de continuar a crescer em termos de produção e de competitividade. “Trabalhámos três grandes temáticas neste roteiro: digitalização, energia e economia circular.” Com base nos dados dos inquéritos e das entrevistas realizadas, conclui-se que “apenas 43% das empresas estão no nível I de digitalização, o que significa que dependem ainda de sistemas Deolinda Silva, diretora-executiva da PortugalFoods.
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