BF17 - iAlimentar

47 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: IMPACTOS E RESPOSTAS porte refrigerado e o armazenamento na cadeia alimentar. “Este facto deve- -se ao aumento das temperaturas e à maior frequência de fenómenos climáticos extremos, que levam a um aumento significativo do consumo energético, dos riscos operacionais e dos custos ligados à conservação dos alimentos”, explica Vítor Alves. Com ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, os sistemas de transporte e os armazéns refrigerados têm de trabalhar em condições mais difíceis, o que exige mais energia para manter a temperatura ideal. “Uma falha na cadeia de frio, mesmo que breve, pode pôr em causa a segurança e a qualidade dos produtos. Além disso, os equipamentos acabam por se desgastar mais rapidamente, precisando de manutenção e substituição frequentes”, acrescenta. Há ainda outro desafio, que consiste na mudança dos fluidos refrigerantes. “Muitos equipamentos ainda utilizam gases que contribuem para o aquecimento global e que, por isso, estão a ser proibidos pela legislação europeia. A transição para tecnologias mais sustentáveis exige investimentos que podem ser difíceis para as pequenas e médias empresas”. Os eventos climáticos extremos têm ainda um impacto significativo na cadeia de abastecimento e logística, manifestando-se tanto na escassez de matérias-primas como no aumento dos custos operacionais. “Fenómenos como secas prolongadas, ondas de calor e cheias prejudicam diretamente a produção agrícola, causando quebras e maior instabilidade na disponibilidade de produtos”. Esta variabilidade complica o planeamento logístico e exige ajustes frequentes, que aumentam os custos de armazenamento, transporte e gestão de stocks. “Ao mesmo tempo, obriga a investimentos em tecnologias mais eficientes e resilientes, refletindo-se inevitavelmente no preço final dos produtos". Patrícia Coelho partilha desta visão e explica que as alterações climáticas aumentam a necessidade de manter as condições térmicas ideais — sobretudo para produtos perecíveis —, exigindo sistemas de frio mais robustos, eficientes e resilientes. “Isto implica um aumento significativo no consumo energético e, consequentemente, nos custos operacionais". Por outro lado, a escassez de matérias-primas agrícolas, “resultante de fenómenos como secas prolongadas, perdas de colheitas ou baixa produtividade, está a provocar disrupções nas cadeias de fornecimento e a aumentar a volatilidade dos preços”. Esse contexto obriga as empresas a repensarem os seus modelos logísticos, refere a presidente da InovCluster — “desde a diversificação de fornecedores à adoção de estratégias de proximidade e otimização de rotas, passando pelo investimento em armazenamento inteligente, que permita maior flexibilidade e capacidade de resposta”. Estamos perante uma cadeia de abastecimento que precisa não só de se adaptar, mas de se transformar, “tornando-se mais sustentável, resiliente e inteligente. É um desafio, mas também uma oportunidade para inovar e ganhar competitividade num contexto global cada vez mais exigente”. No que respeita especificamente à eficiência energética, as unidades industriais enfrentam condições ambientais mais severas, “o que obriga os equipamentos de refrigeração a operar por períodos mais longos e a intensificar o seu funcionamento para manter as condições ideais de temperatura e humidade”, destaca Vítor Alves. Este esforço adicional traduz-se num aumento substancial do consumo energético, elevando os custos operacionais e a pegada ambiental das empresas. Além disso, o desgaste acelerado dos sistemas de refrigeração pode aumentar a necessidade de manutenção e substituição de equipamentos, acarretando custos adicionais. “Com o aumento das temperaturas médias e a frequência de eventos extremos, torna-se mais difícil e dispendioso manter as condições ideais de conservação, segurança alimentar e conforto térmico”, afirma Patrícia Coelho. E justifica: “Isso traduz-se num maior consumo energético, sobretudo nos sistemas de frio industrial e climatização, que já representam uma fatia considerável da fatura energética do setor”. PRESSÃO CRESCENTE SOBRE O CONSUMO DE ÁGUA Enquanto recurso essencial em várias etapas da produção alimentar —

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