BF16 - iAlimentar

48 DOSSIER SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR Do desperdício à inovação A sustentabilidade e economia circular na indústria agroalimentar é muito mais do que grandes números e desafios globais. É um campo fértil para inovações que repensam o ciclo de vida dos materiais, como as embalagens que transformam resíduos em recursos. Susana Marvão O sistema alimentar mundial enfrenta atualmente uma série de desafios que comprometem o seu futuro e a sua capacidade de satisfazer a procura crescente de alimentos. As contas são “simples”: a ONU prevê que o crescimento demográfico atinja 9,1 mil milhões de pessoas em 2050, pelo que a alimentação da população mundial exigirá que a produção alimentar aumente 60-70%. Acontece que, ironicamente, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um terço da produção mundial de alimentos é desperdiçado todos os anos, o que corresponde a 1,3 mil milhões de toneladas perdidas. Além disso, o sistema alimentar contribui, ainda segunda a ONU, para outras questões ambientais, como as alterações climáticas, gerando um quarto das emissões globais de gases com efeito de estufa e tendo um impacto direto na biodiversidade e nos ecossistemas. A economia circular na indústria agroalimentar propõe, assim, um modelo de produção em que os resíduos e subprodutos se transformam em recursos, um paradigma que contrasta com o modelo linear tradicional, promovendo o reuso, a reciclagem e a valorização dos resíduos orgânicos. Ao adotar este modelo, os especialistas advogam que os produtores podem reduzir os custos operacionais, minimizar o desperdício e fomentar a inovação em práticas agrícolas e de gestão dos recursos naturais. Em todo este contexto, as embalagens, também desempenham um papel estratégico na transformação da indústria agroalimentar, sendo um elo fundamental na cadeia de valor e um ponto de interseção entre sustentabilidade e inovação. O DESAFIO DOS LÍQUIDOS À iAlimentar, Bruno Pereira da Silva, coordenador de Economia Circular e Ambiente do Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, abordou os desafios no desenvolvimento de novos materiais sustentáveis, nomeadamente para a produção de embalagens que permitam o armazenamento de líquidos, que apresenta dificuldades técnicas. “O desafio prende-se com o desenvolvimento de materiais com propriedades barreira e de contacto alimentar, evitando a migração de substâncias que possam alterar o sabor, o odor ou até contaminar os líquidos armazenados”. Além disso, salienta o especialista, terá de existir um equilíbrio entre biodegradabilidade e durabilidade, dado que muitos materiais sustentáveis tendem a se decompor mais rapidamente, o que pode comprometer a sua resistência quando em contacto com líquidos ácidos ou alcoólicos. “Outra questão crítica prende-se com a resistência mecânica e térmica, já que os recipientes precisam suportar variações de temperatura e pressão

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