37 DOSSIER PROTEÍNAS ALTERNATIVAS E O FUTURO DA ALIMENTAÇÃO as vitaminas certas, certos aminoácidos, e outros tipos de nutrientes.” Afonso Gusmão, aluno de doutoramento, é engenheiro mecânico de formação e explica que o que difere este projeto de outros é o facto de se utilizar a impressão 3D, uma técnica de fabrico aditivo, ou seja, “uma tecnologia que permite fabricar estruturas tridimensionais depositando o material, camada após camada. Com esta técnica conseguimos depositar diferentes tipos de tinta e dar origem a uma estrutura tridimensional mais complexa”. O que difere a bioimpressão 3D da impressão 3D convencional é o tipo de material utilizado. “Na impressão 3D convencional, usamos polímeros sintéticos, na forma de filamentos que vão sendo derretidos e depositados ao longo de um determinado trajeto. Na bioimpressão usamos materiais que suportam as células.” Através desta técnica é possível oferecer estrutura para dar origem a um produto que tenha propriedades organoléticas, ou seja, sabor, textura e odor, bastante idênticas àquelas que existem na natureza. “O nosso objetivo é dar origem a um filete bastante semelhante àquele que encontramos nos nossos supermercados”, refere. Todo o processo de bioimpressão 3D é idêntico ao processo de impressão 3D. “Começa com o modelo tridimensional do filete que queremos produzir – feito a computador. Podemos variar, alterar o filete ao nível de rácios de gordura para músculo e personalizá-lo de acordo com as necessidades e o que o consumidor pretende.” Temos depois a tradução de este modelo computacional num código que a bioimpressora consegue interpretar, e por sua vez, depositar a tinta ao longo de um trajeto tridimensional predefinido. “Neste momento, os filetes demoram cerca de seis horas a ser impressos porque estamos a falar de uma bioimpressora desenvolvida durante a minha tese de mestrado. Porém, se compararmos estas seis horas de impressão com a vida de um peixe desde o seu nascimento até o consumirmos, não é muito tempo”, esclarece Afonso Gusmão. Relativamente à legislação, o desafio atual é permitir a prova da comida pelos consumidores. “Isso pode ser feito em termos académicos, mas se as empresas quiserem levar estes produtos para o mercado, é preciso ter uma aprovação que garanta a segurança desse produto e o tempo dessa aprovação pode ser uma barreira”, refere Frederico Ferreira. E se é verdade que alguns mercados, como Singapura, têm um tempo de aprovação mais rápido, “também é certo que os EUA têm um tempo intermédio e, na Europa, o processo é mais lento”. O professor realça que é preciso desafiar outros Estados, incluindo o português, “a criar legislação local que permita realizar provas, com segurança, e infraestruturas em parceria com várias instituições, para promover projetos piloto, onde se possa demonstrar escalabilidade de processo e produção de alguns protótipos para que os consumidores possam experimentar esta nova forma de alimentação”. n Foto: Gonçalo Gouveia / Instituto Superior Técnico.
RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx